Escola também é lugar de tecnologia
March 10, 2014 às 11:09 am | Comportamento dos alunos, Gestão
Há poucos dias, um aluno recém-chegado à universidade, mais
especificamente em um curso da área de Ciências Humanas, me contou um
caso bastante sintomático sobre a maneira como a tecnologia ainda é
encarada na sala de aula.
Ele me descreveu sua primeira semana na faculdade, aquele momento em
que somos apresentados aos professores e às disciplinas que iremos
cursar ao longo do semestre. O primeiro impacto sentido por ele foi a
maneira como a coordenadora do curso se apresentou, informando logo de
cara à todos:
– Quero que saibam que não estou aqui para ser amiga de ninguém. Presto um serviço para a universidade e não confundo, nem gosto que confundam, o meu papel. Não gosto de brincadeiras e não sou muito de risadas. Espero que me procurem somente quando houver um assunto de muita importância. Estamos combinados?
Ainda impactado pela falta de humanidade da coordenadora, e
suspeitando tratar-se de uma aula trote, esse rapaz logo foi confrontado
por outro anacronismo.
Durante as aulas que se seguiram, ele me contou que cada professor apresentou em Power Point o que chamaram de contrato de sala
(popularmente conhecido como regras ou combinados da turma). Todos os
contratos estavam prontos e sacramentados somente por um dos envolvidos:
o professor. Claro que não se considerou o significado da palavra
contrato, isto é, trato entre pessoas. Caso contrário, ele teria sido construído com o envolvimento, ainda que parcial, de todas as partes.
Pois bem, nesses contratos, duas das professoras do curso se posicionaram radicalmente contra o uso de computadores, tablets e afins. Uma delas não se deu ao trabalho de argumentar. A outra apresentou a seguinte justificativa:
– Sou da velha guarda e não aceito computador ou outro equipamento
similar nas minhas aulas. O aluno, quando escreve, presta mais atenção
porque tem que ler o que escreveu. Além do mais, ele pode se distrair
usando a internet durante a aula…
Ai! Haja paciência! É ou não é subestimar muito o ser humano aluno que está ali?
Esse exemplo de rejeição ao uso da tecnologia em sala de aula
confirma a dificuldade de muitos profissionais em conceber que a
educação não pode se voltar contra uma realidade global. Ao se
declarar como sendo da “velha guarda”, a professora assume que não sabe
lidar com as inovações trazidas pela contemporaneidade para o dia a dia
do profissional da educação. A situação fica ainda mais comprometida
quando justifica que escrevendo o aluno terá mais atenção. Ora, isso
significa que digitar não exige a leitura? Então todos os textos que produzimos no computador não são relidos, corrigidos ou modificados?
O receio de que a internet seja mais atraente do que sua explanação
demonstra ainda a ausência de um planejamento que inclua pesquisas na
internet durante a aula. E, finalmente, acreditar que a proibição da
tecnologia garantirá a atenção e envolvimento dos alunos é, no mínimo,
uma ingenuidade do professor.
Há bem pouco tempo, no 26º Encontro Nacional de Professores do Proepre
– Neurociências e Educação, tive a oportunidade de ouvir dois
respeitáveis neurologistas que afirmaram em suas palestras a
impossibilidade de a escola atual impedir ou inviabilizar o trabalho com
as novas tecnologias. Demonstraram cientificamente que a evolução no
córtex cerebral humano possibilita às novas gerações consideráveis
avanços em suas habilidades quanto ao mundo virtual e que, portanto, a
Educação deve usar isso a seu favor.
Sendo assim, nosso foco deve estar nas diferentes maneiras de se utilizar as novas tecnologias como ferramentas pedagógicas
e não em combatê-las. Na próxima semana, nos contrapondo aos relatos
que serviram de exemplos quanto à postura ineficiente do educador frente
aos combinados e utilização da tecnologia, trarei práticas e posturas
favoráveis à construção da autonomia de nossos alunos.
http://gestaoescolar.abril.com.br/blogs/aluno-em-foco/2014/03/10/escola-tambem-e-lugar-de-tecnologia/